ECOS 1 > Editorial

Editorial


por Cristiana Pittella

Vamos ver, ouvir e ler nesse número 01, os ecos do Ecos 0.

Nosso Boletim dá lugar às repercussões, às letras que escrevem, a cada vez, a nossa 25a Jornada – Acontecimento de corpo: da contingência à escrita.

Feito por muitos, o boletim traz o que cada um coloca de si, de seu jeito, de sua fala. Um gosto, um tom que, ora pela consonância, ora pela dissonância, se é tocado.

Esse número se desenhou a partir da experiência de se escrever em ato, da linha editorial às tonalidades contingentes.  As invenções e os achados vão se alojando. A surpresa dá lugar às performances, ao corpo e à voz.

Ecos 01 nos convida a experimentar, a deixar ressoar em cada um os seus acordes.

As elaborações avançam e a escrita vai se compondo.

No detalhe da leitura dos textos apreenderemos quais consequências clínicas podemos retirar ao se acrescentar, à função do inconsciente, o corpo.  Não a sua imagem, não o seu símbolo, mas o real pulsional, que coloca em jogo a incidência da materialidade da língua e como ela percute. Lacan a chamou de lalíngua, em seu último ensino que é marcado por invenções: “É que somos zomes”[1]!

O choque contingente da língua, do significante, afeta e produz um gozo que itera, retumba fora de sentido na experiência de um corpo: LOM, LOM de base, LOM cahun corps et nan-na Kun[2]

Um corpo que se tem, não se é, e sempre escapa: L’on l’a, l’on l’a de l’air, l’on l’aire, de l’on l’a[3].

Chuva de palavras, fraseados, restos falados e escutados, um ritmo, uma respiração, uma jaculação, um rugido… substâncias fônicas que precedem ou encontram-se discernidas do Outro enquanto estruturado como uma linguagem. Elas marcam, animam e fazem o corpo acontecer.

O sintoma é esse acontecimento de corpo que implica a inscrição da letra. Ao localizar o gozo, a letra perfura e faz borda ao corpo do falasser. Um litoral se desenha entre significante e gozo, o corpo goza dos equívocos em suas fissuras[4].

A raiz do sintoma é a reiteração desse gozo, que Freud chamou fixação. É neste sentido que o sintoma é, segundo J.A.-Miller, como um objeto fractal, pois o objeto fractal mostra que a reiteração do mesmo pelas aplicações sucessivas lhe dá as mais extravagantes formas e as mais complexas[5].

Essa clínica do Outro enquanto corpo nos exige estar assim, mais do lado da escrita do que da palavra. De um dizer que faça acontecimento, introduzindo uma topologia do inconsciente que coloca em jogo uma leitura em ato da experiência do inconsciente, da hiância entre a palavra e o escrito.

Nesse número Paula Pimenta nos apresenta o tema que nos reúne a partir da leitura do livro de nosso convidado para as 25a Jornada, Patricio Álvarez Bayón (EOL/AMP)  – El Autismo, entre Lalengua y la Letra[6].  Vale a leitura!

Seu livro é para ser lido e relido! A fineza de seu trabalho nos ensina como, do enxame de lalíngua, se extrai a letra e se articula a linguagem. Ele nos esclarece que o gozo da língua toma como suporte o corpo da letra.

Sua transmissão revela o quanto a clínica de lalíngua é uma clínica à construir[7] e que há distintos modos de funcionamento do significante ( S1)[8]. A leitura desses operadores, lalíngua e letra, para além da clínica do autismo, nos permite abordar o que há de autista em cada ser falante.

Lalíngua encontra-se no texto de Alessandra Tomaz remontada à invenção de Lacan que, fiel ao seu lapsus, ecoa a substância fônica! Vamos encontrá-la também nas resenhas de Maria Amélia Tostes, Mariana Vidigal e Fernanda Costa. Elas nos presenteiam com as marcas da letra da leitura de cada uma.

Delinea-se também nesse número de Ecos detalhes clínicos que nos iniciam na investigação em direção à diferenciação entre acontecimento de corpo e fenômeno de corpo. Leiam o texto que Anne Lysy (ECF/AMP) gentilmente cedeu para o ECOS este boletim.

Sérgio Laia, com sua contribuição, nos propõe pensar o sintoma como acontecimento de corpo a partir de um modo de satisfação que excede o enquadre fantasmático, uma experiência que faz o corpo acontecer. Confiram !

O instigante texto de Sérgio de Mattos demonstra como pode o falasser conter o corpo que lhe escapa.  Percorram os caminhos e descaminhos que ele traça nesse escrito. Ele também nos brinda, junto à sua equipe, com uma composição! Degustem desse eco generalizado da substância fônica e da repercussão polifônica[9]!! Vamos deixá-la ecoar…Tru-No-AR…

Na nota sobre o Roaratorio de Jonh Cage, Patrícia Ribeiro nos faz escutar e sentir a intensa vibração dessa obra.  Roar…roar…oratorio… roaratorio…é poesia. Na vida, no mundo e no imundo.

Os Homens Ocos de T.S. Eliot, são relembrados e atualizados na escrita de Maria Rita Guimarães. Para ler, recitar e assistir!  Trumains, murmuramos: somos ocos, ocos, ocoss …oossss…ss…s…

É preciso tempo para fruir dessas paisagens, desse mundo de sons, de textos e músicas … que revelam o vazio da referência e a língua como ressonância.

Toda essa materialidade reverbera, orientando-nos para a 1a Conversação Preparatória do Cartel do Eixo 1, Fazer-se um corpo, em10 de junho! Convidamos cada um a tomar a palavra e participar!

Nos dias 19 e 20 de novembro, esperamos encontrar a sua escrita para a Jornada Clínica que terá lugar em mesas simultâneas! Vem!

 

 

 

 

 

[1] LACAN. Jacques. Joyce, o sintoma(1979), In Outros Escritos,  Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor p. 560.

[2]Idem, p. 561,

[3] Idem, p. 565

[4] Laurent, Eric: El nombre y la causa. Editado por Mariana Gómez-1a ed- Córdoba: IIPsi.Instituto de Investigación Psicólogicas.

Libro digital, PDF

[5] MILLER, J. Ler um sintoma, J.A. Opção Lacaniana 70, Revista Brasileira Internacional de psicanálise p.21

[6] El Autismo, entre lalengua y La letra, Patricio Álvarez Bayón, Grama Ediciones, 2020

[7]  Idem p. 75

[8] Idem p. 72

[9] Laurent, Eric: El nombre y la causa. Editado por Mariana Gómez-1a ed- Córdoba: IIPsi.Instituto de Investigación Psicólogicas.

Libro digital, PDF

ABRIR EM PDF